Quando eu ia com a vovó levar as merendas e o almoço, enquanto ela aproveitava para trabalhar, eu e meu inseparável amigo, ficávamos brincando um racho de sapé onde as comidas eram guardadas.
Nossa maior distração era fazer carroça de palitos e colocar ratos para puxa-la, como se fosse cavalos. Lembro das brincadeiras divertidissimas que enventavamos. Meu amigo era tão esperto que até o italiano ele falava, as pessoas achavam engraçado um negrinho falando o italiano. Para mim ele não tinha cor, ele exatamente como eu.
Próximo daí ficava o rancho de meu avô José, onde ele ficava sentado dando ordens. Tinha ao lado uma plantação de abacaxi, que ele costumava servir para os empregados.
Certo dia vovô decidiu descascar vários abacaxi e começou a me chamar para ir até lá, onde ele servia fatias suculentas de abacaxi docinho. Como eu não ia, resolveu ficar na entrada do rancho com uma fatia de abacaxi na ponta da faca me assanhando. Fiquei louca para dar uma mordida. Sem pensar, sai correndo até lá. Gostaria de esclarecer que eu estava descalça e entre os dois ranchos havia uma estrada de areia. Sai correndo, mas ao pisar na areia comecei a gritar de dor. As 15h00 a areia muito quente torrou a sola do meu pé.
Saindo das plantações, vovó Bárbara aos gritos, me pega no colo, e após jogar agua me leva embora. Até hoje ecoa no meu ouvido os gritos de vovó para meu avô "Lei è uomo irresponsabile, vecchio di nuovo fuori della mia ragazza".
Todos ficaram bobos de ver com que violencia ela, uma mulher calma, partiu contra meu avô. E por muito tempo ela ainda dizia a ele "você é um homem velho e irresponsável, afaste-se da minha menina", no mesmo dia ao chegar do serviço vovô foi me ver pedindo perdão, mas para me ver teve que entrar no quarto com meu pai.
Desse dia em diante nunca mais os dois conversaram como antes e eu nunca mais gostei de abacaxi.
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