Observando o início de minha amizade com a Maria Clarice vejo que ela foi o anjo que o pai colocou na minha vida para que se cumprisse os seus desígnios.
Com sua amizade pude fazer o que fazia antes e com isso recuperei minha alegria e me senti livre de novo.
Eu disse que vovó era racista, mas com a família da Clarice tudo foi diferente. Vovó tratava ela e sua família com respeito, gostava muito deles. Sabem por que?
Entre as duas famílias havia só duas diferenças: a cor da pele e eles sempre foram serviçais enquanto que minha família era branca como a neve e quase sempre foram patrões, no mais tudo era igual.
A água e o pão eram sagrados. Nenhum poderia ser desperdiçado. O pão era o sustento do corpo e demorava 24h para ficar pronto, o fermento era natural. Em casa tínhamos guardado uma muda dele, na casa da Clarice era uma garrafada. A farinha era escura e muito cara por isso só se fazia pão uma vez por semana. O pão era amassado, passado no cilindro, modelado e colocado para crescer num lugar quente e se cobria com cobertor.
As minas d'agua eram tesouros e como tal eram protegidos e cuidadas diariamente, plantava-se árvores para protege-la. Vovó dizia que a agua era o alimento da vida.
Na casa da Clarice não se chegava ou saída sem pedir a bênção aos mais velhos, como na minha. Nas duas famílias todos tinham suas obrigações, ninguém se servia antes dos mais velhos.
Resumindo as duas famílias eram iguais uma mineira e a outra italiana. Cada vez nossas famílias mais se aproximavam. Antes de ir para a aula Clarice passava em casa tomava banho e se aprontava, tudo com a supervisão de vovó. Ela preparava nossa bolsa e nos acompanhava até ao grupo.
Na hora do recreio ela levava nossos lanches. Na lateral da escola havia um portão com uma portinhola por onde ela passava os lanches: sempre um pão com molho e queijo, ou com salada e uma enorme jarra de suco. Eu sempre comi muito pouco e a Clarice acabava comendo quase os dois pães.
O mais divertido era quando não tinha aula, a Clarice chegava cedo e nos juntas íamos a pé pegávamos dois cavalos seus pais, mandavam frutas e verduras para os meus e vínhamos para a cidade. Antes passávamos pela agua virtuosa, que era um jacto de água que jorrava da terra. Eu e ela passávamos correndo pelo jato várias vezes e depois íamos para casa.
Adivinha como éramos recebidos.
É lógico que com um corretivo, mas nós sempre voltávamos lá. A brincadeira era tão divertida que valia a pena correr esse risco.
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