31 de jan. de 2011

O que me impulsionou para a vitória, foi uma crítica!

Rapidamente consegui acompanhar o aprendizado no primeiro ano escolar, apesar do meu sotaque e com uma vantagem eu já sabia ler e escrever em italiano, o que me valeu fazer uma média com professores e diretor,ensinando as músicas italianas da época. No segundo ano tudo foi mais fácil. A professora era D Marieta Rolim de Moura, que veio a acompanhar a mesma turma até o final do grupo.  Por três anos, convivemos professora e alunas.A professora era tão valorizada como o padre ou o prefeito da cidade.,o ensino era voltado para  a preparação para a vida, dando cultura e preparando o aluno para melhor viver em sociedade.Tínhamos aula de orfeão, quando aprendíamos o solfejo e aula de educação artística,quando aprendíamos além da pintura o artesanato. Nessa aula  eu e  a Clarice ajudávamos a professora, pois sabíamos croché,tricô, bordávamos(vagonite, ponto cruz ,e pontos de bordados). Todo trabalho executado era exposto no final do ano.Para nós era uma grande realização ver as pessoas admirando os nossos trabalhos..O interessante é que a mesma professora, ministrava todas as matérias, e com que competência!  Havia muitas festas onde o aluno mostrava o que tinha aprendido em aula. A festa do dia das mães era muito esperada. Preparando para essa festa a professora deu uma tarefa: decorar a poesia 'Três mães."Ela era muito comprida e difícil. Eu tinha facilidade em recitar.O prazo para saber a poesia era cinco dias.No terceiro dia eu já sabia interpretar a poesia,enquanto que a classe só ficaria pronta após o prazo.Não fui a escolhida e sabe porque?Segundo a professora eu tinha muito sotaque, nem parecia brasileira.Fiquei muito chateada, pois até as colegas acharam que eu era a melhor, mas aí decidi que o português não me atrapalharia mais a minha vida. Eu dominaria tal língua.Sabe o que aconteceu? Aprendi tudo . Fiz até um curso de oratória pago por Carlos Lacerda, que me considerava ótima oradora. E para completar quando dona Marieta  quis fazer faculdade eu trabalhava num curso preparatório e, com muito orgulho a tornei apta para o vestibular. Vocês não acham que parei por aí, é lógico que não fiz todos os cursos necessário e passei a fazer análise política na Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro. Ganhei prémios como oradora e como escritora. Quando realmente você quer alguma coisa e faz  as ações certas você consegue. Eu sou a prova disso!

30 de jan. de 2011

Sempre que se faz necessário, um anjo aparece na minha vida!

Observando o início de minha amizade com a Maria Clarice vejo que ela foi o anjo que o pai colocou na minha vida para que se cumprisse os seus desígnios.
Com sua amizade pude fazer o que fazia antes e com isso recuperei  minha alegria e me senti livre de novo.
Eu disse que vovó era racista, mas com a família da Clarice tudo foi diferente. Vovó tratava ela e sua família com respeito, gostava muito deles. Sabem por que?
Entre as duas famílias havia só duas diferenças: a cor da pele e eles sempre foram serviçais enquanto que minha família era branca como a neve e quase  sempre foram patrões, no mais tudo era igual.
A água e o pão eram sagrados. Nenhum poderia ser desperdiçado. O pão era o sustento do corpo e demorava 24h para ficar pronto, o fermento era natural. Em casa tínhamos guardado uma muda dele, na casa da Clarice era uma garrafada. A farinha era escura e muito cara por isso só se fazia pão uma vez por semana. O pão era amassado, passado no cilindro, modelado e colocado para crescer num lugar quente e se cobria com cobertor.
As minas d'agua eram tesouros e como tal eram protegidos e cuidadas diariamente, plantava-se árvores para protege-la. Vovó dizia que a agua era o alimento da vida.
Na casa da Clarice não se chegava ou saída sem pedir a bênção aos mais velhos, como na minha. Nas duas famílias todos tinham suas obrigações, ninguém se servia antes dos mais velhos.
Resumindo as duas famílias eram iguais uma mineira e a outra italiana. Cada vez nossas famílias mais se aproximavam. Antes de ir para a aula Clarice passava em casa tomava banho e se aprontava, tudo com a supervisão de vovó. Ela preparava nossa bolsa e nos acompanhava até ao grupo.
Na hora do recreio ela levava nossos lanches. Na lateral da escola havia um portão com uma portinhola por onde ela passava os lanches: sempre um pão com molho e queijo, ou com salada e uma enorme jarra de suco. Eu sempre comi muito pouco e a Clarice acabava comendo quase os dois pães.
O mais divertido era quando não tinha aula, a Clarice chegava cedo e nos juntas íamos a pé pegávamos dois cavalos seus pais, mandavam frutas e verduras para os meus e vínhamos para a cidade. Antes passávamos pela agua virtuosa, que era um jacto de água que jorrava da terra. Eu e ela passávamos correndo pelo jato várias vezes e depois íamos para casa.
Adivinha como éramos recebidos.
É lógico que com um corretivo, mas nós sempre voltávamos lá. A brincadeira era tão divertida que valia a pena correr esse risco.

28 de jan. de 2011

Uma italiana em escola para brasileiros!

Atendendo a minha ânsia de aprender meus pais me matricularam no Grupo Escolar de Cerqueira César, hoje Avelino Pereira.
Nasci no Brasil, mas fui criada como italiana: língua, modos e maneira de ser.
Tudo foi preparado para meu ingresso na escola: a saia pregueada de casimira, a blusa branca de tricoline, os pares de meia soquete branco, o sapato preto, estava um brilho só, até fitas branca para o cabelo foi comprado.
Meus pais compraram o melhor material escolar: caderno bonitos que traziam os hinos oficiais na contra capa, lápis preto, uma caixa de 36 lápis de cor, uma cor mais linda que a outra, apontador, canetas e penas.
Tudo era maravilhoso, só se esqueceram que eu já sabia ler e escrever em italiano e não sabia falar o português, só entendia. Acredito que para meus pais não havia diferença entre eu e uma criança típica brasileira.
No primeiro dia de aula, bem antes do início do dia letivo, me aprontei, pus o uniforme, meu cabelo foi trançado e amarrado laço de fita. Vovó Bárbara seguiu comigo ,levando a minha bolsa com meus materiais. Ela seguia toda orgulhosa como que levando um troféu.
Os portões já estavam abertos e vovó entrou comigo. As crianças faziam muita algazarra. Fizemos fila para acompanhar a professoa até a classe. Como íamos dois a dois uma menina se achegou ao meu lado, e demonstrando que era obsevadora foi logo dizendo "Eu sei que você não é brasileira, mas eu entendo sua língua e vou te ajudar". Foi aí que nasceu minha outra irmã. Eu que estava perdida no meio da cambada de meninas fui salva por uma desconhecida.
Já na classe os problemas começaram. Eu entendia tudo que a professora falava, mas quando eu tentava reponder todas riam muito. Nessa época as classes não eram mistas, havia classes só de meninas ou só de meninos. Cada vez que as meninas caçoavam de mim,  minha nova amiga saía em minha defesa.
No final da aula a professora pediu para meu pai vir falar com o diretor. Tão logo eu cheguei, papai foi até a escola. Sabe o que o diretor queria? Que eu aprendesse português. Eu continuaria na escola, ao mesmo tempo que deveria ter um professor para me ensinar a nova língua.
Sugestão aceita lá fui eu ter aulas particulares, mas como continuei indo a aula, quem de verdade me ensinou o português foi a minha nova amiga. Fiquei sabendo que seu nome era Maria Clarice, morava no sítio Três Ranchos, tinha mais três irmãos. Ela era a mais velha de todos. Entendia o italiano, pois toda sua família sempre trabalharam com a tradicional família Moura Leite. Ela fazia questão de dizer que era uma menina negra com muito orgulho.
Na classe sempre que eu tentava falar, ela dizia a palavra e pedia que eu repedisse, e assim com a atenção especial de minha professorinha em dois meses eu já me comunicava bem, e cada vez que errava Maria Clarice me corrigia. Por isso sempre disse aos meus filhos que na verdade ela foi minha primeira professora.
Logo a amizade entre nossas família nasceu .Uma freguentava a casa da outra. O interessante é que minha avó que era racista nunca percebeu que Clarice era negra. Acho que sua grande amizade por mim só fez vovó ver sua grandeza de alma e não sua cor.

26 de jan. de 2011

Acredito que foi aí que me tornei tímida, reservada e de poucos amigos!

Todas as crianças sofrem com uma mudança, mas para mim foi maior o meu sofrimento, pois além de me afastarem de meu melhor amigo perdi toda a imensidão de espaço que eu percorria quase que todos os dias.
Nessa época passei a falar pouco, só conversava muito com vovó. Não tinha amigos, meu constante companheiro era meu cachorro, com quem eu falava muito,  conservo até hoje esse costume ,não faço questão da companhia humana, mas não consigo viver sem cães ao meu redor.
Acredito que amo tanto os cães porque nessa época eles foram os únicos a me fazerem companhia 24h. Minha mãe estava atarefada com o restaurante, minha irmã pouco se interessava por mim, talves por ser 10 anos mais velha, vovó não demorou nada para começar a pegar encomendas de tricô e crochê.
Foi aí que comecei a me adaptar a nova vida pois comecei a tecer com ela. O meu dia começou a ficar cheio: cedinho nos íamos na horta e na volta vínhamos vendendo verduras. Eu adora gritar "Olha a verdura", e vovó orgulhosa ia dizendo "Essa é a minha neta".
Essa relação entre neta e avó logo começou a chamar atenção de famílias tradicionais com os turcos e italianos. Todos saiam de suas casas só para nos ver e assim nos vendíamos muito. E na hora das entregas das encomendas, então! Era um Show só!
Vovó fazia questão de ir dizendo as peças que eu tinha feito! Nos duas fazíamos muito dinheiro que era todo entregue ao meu pai, pois era ele que nos dava tudo que queríamos.
Nessas entregas fiz amizade com o filho e o sobrinho do farmarcéutico que era nosso vizinho. Nos domingos nós brincávamos quintal da farmácia.Subíamos nas árvores, mexiamos na terra, comíamos frutas direto do pé.
O novo ano chegou e com ele a hora de ir para a escola.
Novamente eu seria testada! .

25 de jan. de 2011

Como foi difícil a vida de uma roceira na cidade!

Antes do almoço já estávamos na nova casa. A casa era grande, mas em nada lembrava a casa do sítio. Tinha três quartos, uma sala imensa, tudo dando para uma sacada bem grande, a  cozinha da casa era junto com a sala de refeições. Na parte de baixo ficava o bar bem sortido e o salão imenso com mesas e cadeiras para se servir as refeições, uma cozinha imensa e um quintal pequeno.
Na minha primeira saída  a rua com meu cachorro,me senti como um animal, enjaulado num zoológico, aberto para a visitação pública. Todos me olhavam de cima em baixo, me analisando.
O que me alegrou foi conhecer o dono do bar próximo a minha casa, o Carioca, ele gostou de mim bem rápido, o que mais o aproximou foi a cor dos meus olhos, que segundo ele eram os mais lindos que ele havia visto.
Todos os dias eu ia lá, comprar sorvete e principalmente conversar com o Carioca.
No mais tudo era uma chatice. Eu não tinha onde ir até que vovó  Bárbara decidiu fazer uma horta na chácara que papai possuia na saída da cidade. Como pegava todo o quarteirão, as casas alugadas ficavam na frente e no fundo ficava o pomar e o terreno onde foi feito a horta.
Daí em diante todos os dias eu e ela íamos para lá. Eu brincava na terra, subia nas árvores.
O desagradável é que tive de fantasiar de menina da cidade: vestido da moda ao invez de minhas roupas surradas, sapato boneca nos pés, e até permanente me fizeram. Fiquei parecendo uma boneca sem vida.
A minha alegria de viver tinha tirado férias.

24 de jan. de 2011

De tanto pedir vovó Bárbara, conseguiu o que queria!

 Desde que eu aprendi a ler e escrever sozinha, vovó Bárbara começou a dizer "Quando el bambino è inteligente, i genitori affielaché egli possa progrediri sempre di più".
Por muito tempo ela repetiu aos meus pais a frase "Quando o filho é inteligente, cabe aos pais garantir que ele possa progredir sempre".
Essa frase era para explicar porque que ela queria que mudássemos para a cidade. Segundo ela  na cidade eu teria condições de aprender muito mais, e me desenvolver muito mais ainda.
Diz o ditado que a água mole em pedra dura  tanto bate até que fura, e foi isso que aconteceu com meus pais. Papai finalmente decidiu mudar para Cerqueira César, uma cidade onde ele já havia comprado alguns imóveis, juntamente com um tio.
Foi por orientação desse mesmo tio que papai comprou um bar e como na parte de cima do bar havia uma residência, decidiu para lá mudar.
O meu amigo de toda minha vida continuaria no sítio pois seu pai continuaria trabalhando para o meu, cuidando de tudo até ele decidir o que fazer com ele. O caminhão foi alugado para levar a mudança. Tudo já estava arrumado pronto para por no caminhão.
Eu só tinha sete anos, pouco sabia da vida, mas sabia que estava preste a deixar para trás a mais bela época da minha vida, Vovó percebendo que eu estava triste procurou me animar, falando de tudo que teria na cidade. Pouco ela me animou.
Nessa noite fomos deitar cedo, pois o caminhão chegaria as 4h. Essa noite aconteceu a 59 anos, mas na minha mente é como se estivesse acontecendo agora. Lembro me do meu pai acertando o relógio e colocando sobre a cômoda, pois ele nos acordaria com tempo de nos alimentarmos, antes de colocar a mudança no caminhão.
Na hora certa o caminhão chegou. Em duas horas estávamos prontos para partir. Todos vieram se despedir menos vô José, ele disse que não aguentaria me ver partir. Lembro bem que as lágrimas impediam de ver todos acenando enquanto íamos nos distanciando de todos.
O meu coração dizia que nunca mais eu voltaria ali. 

22 de jan. de 2011

E na minha frente havia uma cerca de arame farpado!

Hoje, após tudo que estudei,  agradeço a meus pais que mesmo sabendo que eu possuía a saúde frágil permitiram que eu levasse uma vida normal.
Sei que muitos problemas de saúde eu superei, porque criei resistência, por ter sido criada livre e isso é o que agradeço de joelhos a quem além de me dar a vida souberam me manter viva apesar de tudo.
Sempre fui uma menina sem modos, como dizia vó Rubina. Na verdade eu era uma selvagem no corpo de menina. Vivia subindo nas árvores ou pulando dos barrancos, mas um dia me dei muito mal.
Entre os pés de mangas de vovô e a estrada, havia um enorme barranco e entre ele e as mangueiras havia uma cerca de arame farpado. Andando entre as mangueiras havia muitos porcos, que para mim eram amiguinhos a mais.
Certo dia escolhi a maior mangueira para subir. Quando começava a brincar esquecia de tudo, eu levava o corpo e alma para uma outra dimensão: o brinca que brinca, eu pulei em um galho menos resistente, eh bumba... lá fui pro chão.
Cai sobre um porco grande, que apavorado sai correndo, tentando fugir para a estrada. Para isso ele tinha que passar pela cerca. Quando eu cai enlacei o porco com meus braços. Ao passar pela cerca tive minhas costas e cabeça toda arranhada, e ao cair na estrada estava toda sanguentada.
Fui levada ao médico, levei muitos pontos e por um bom tempo fiquei de molho deitada de bruços e até hoje trago marcas nas costas e vocês acham que eu mudei?
A minha mudança durou só o tempo de estar curada, logo voltei a ser a mesma de sempre.

21 de jan. de 2011

Minha Primeira Ferramenta!

Como eu estava caindo muito, fui levada ao médico, que imediatamente me encaminhou a um oculista. A família Curiate,  que era muito amiga de papai, tinha um filho recém formado nessa área e fez questão de me atender.
Lembro-me até hoje do  jovem muito bonito que me examinou, mais tarde seria meu grande amigo Antonio Salim Curiate. Foi com tristeza que ele diagnosticou glaucoma congênita. Quer dizer eu havia nascido com ela. É uma doença incurável.
Bem mais tarde através do Dr Davi Raskin vim a saber que na mutação do azul dos meus olhos é que tudo aconteceu. Meus olhos não são azuis como de meus pais, eles são azuis tendendo ao lilás.
No começo foi difícil, mas  hoje sei conviver com essa limitação.
Sempre tive uma vida normal, sem ligar para esse problema, tanto é verdade que aos cinco anos decidi que deveria ter uma enxada duas caras como todos os outros. Enxada comprada lá fui eu carpir, e adivinha o que cortei primeiro? É lógico que só poderia ser o meu próprio pé.
Levei  alguns pontos e fiquei  de molho por um bom tempo, desistir de carpir, isso não passou pela minha cabeça. Até hoje sinto muita atração pela terra. Adoro carpir, afofar, adubar, plantar. Para mim não há nada mais calmante do que mexer na terra.
Minha avô Rubina dizia que eu não poderia pertencer a família pois  parecia mais uma cigana. Ela chegou até a dizer que meus pais me adotaram, de uma cigana que passou por lá. Vocês pensam que eu acreditei?
Se meu pai era o dono do mundo, pouco importava em que família eu nasci, não é?   

20 de jan. de 2011

Cada vez que vejo uma paineira, volto no tempo!

Atravessando a estrada, bem em frente a casa dos meus avós, havia uma paineira imensa, que uma vez por ano, fornecia material para encher almofadas, travesseiros e colchões, mas a sua principal utilidade era abrigar vovô José e seus netos. Sentados em suas raízes nos chupávamos cana, laranja, abacaxi, e outras frutas da época.
O que mais nos divertíamos era as histórias que vovô nos contava. Ele misturava as histórias infantis que sua mãe lhe contara com as suas histórias de vida. Nós divertíamos muito.
Até hoje quando vejo uma paineira grande, volto aquela época feliz de minha vida.
A história que mais me marcou foi a naturalização de meus avós. Era época de guerra e temendo por sua família, decidiu se naturalizar, o que ia contra a decisão dos outros italianos de Avaré e região. No dia marcado José e Rubina compareceram no prédio indicado. O prédio tinha dois andares e estava cercado por italianos que queriam impedir as naturalizações.
Enganando a todos ele e vovó entram no prédio, assinam os papeis e se tornam oficialmente brasileiros.
O difícil foi sair pois o número de italianos havia aumentado muito e estavam violentos; como a coragem nunca foi seu forte, meu avô só viu uma saída, pular pela única janela onde não havia aglomeração. Pensado e feito, ele deslizou pelas paredes até em baixo e se pôs a correr fugindo da fúria dos amigos.
Vovô José morreu afirmando que não havia renegado a Itália, só queria assegurar o direitos de seus filhos na nova terra, tanto que ele nunca deixou de votar.
Minha avó sempre afirmou  que nesse dia ela saiu tranquilamente pela porta da frente pois não era esperada

11 de jan. de 2011

Você sabia que a areia quente queima?

Quando eu ia com a vovó levar as merendas e o almoço, enquanto ela aproveitava para trabalhar, eu e meu inseparável amigo, ficávamos brincando um racho de sapé onde as comidas eram guardadas.
Nossa maior distração era fazer carroça de palitos e colocar ratos para puxa-la, como se fosse cavalos. Lembro das brincadeiras divertidissimas que enventavamos. Meu amigo era tão esperto que até o italiano ele falava, as pessoas achavam engraçado um negrinho falando o italiano. Para mim ele não tinha cor, ele exatamente como eu.
Próximo daí ficava o rancho de meu avô José, onde ele ficava sentado dando ordens. Tinha ao lado uma plantação de abacaxi, que ele costumava servir para os empregados.
Certo dia vovô decidiu descascar vários abacaxi e começou a me chamar para ir até lá, onde ele servia fatias suculentas de abacaxi docinho. Como eu  não ia, resolveu ficar na entrada do rancho com uma fatia de abacaxi na ponta da faca me assanhando. Fiquei louca para dar uma mordida. Sem pensar, sai correndo até lá. Gostaria de esclarecer que eu estava descalça e entre os dois ranchos havia uma estrada de areia. Sai correndo, mas ao pisar na areia comecei a gritar de dor. As 15h00 a areia muito quente torrou a sola do meu pé.
Saindo das plantações, vovó Bárbara aos gritos, me pega no colo, e após jogar agua me leva embora. Até hoje ecoa no meu ouvido os gritos de vovó para meu avô "Lei è uomo irresponsabile, vecchio di nuovo fuori della mia ragazza".
Todos ficaram bobos de  ver com que violencia ela, uma mulher calma, partiu contra meu avô. E por muito tempo ela ainda dizia a ele "você é um homem velho e irresponsável, afaste-se da minha menina", no mesmo dia ao chegar do serviço vovô foi me ver pedindo perdão, mas para me ver teve que entrar no quarto com meu pai.
Desse dia em diante nunca mais os dois conversaram como antes e eu nunca mais gostei de abacaxi.

10 de jan. de 2011

Como era gostosa a cana caiana!

Tenho falado muito sobre minha avó materna, e nada dos meus outros avós, os paternos, é que sempre me liguei mais nela o que não quer dizer que os outros não foram importantes na minha educação. Até fisicamente sou parecida com eles. Hoje lembrei-me de um fato que se repetiu muitas vezes, enquanto morei no sítio.
Herdei do avó José o gosto pela cana caiana e por figo da índia. Alias todos os figos que maduravam eram devorados por nós dois, o resto da família não gostava. Ele mantinha com muito carinho uma plantação de figo da índia e uma belíssima plantação de cana caiana no lado direito de sua casa. Como a casa fora construída num terreno em declive, os quartos ficavam no alto e em baixo era um deposito de ferramentas. Sempre depois do meio dia ele tirava um cochilo, e nessa hora eu aproveitava para me apoderar de umas canas suculentas.
Como vocês sabem para colher a cana temos que cortar e, nessa hora ele acordava, começava a xingar e como tinha uma ferida na sola do pé, demorava para sair da cama. Eu como sabia de tudo isso me aproveitava da situação e corria para casa afim de me deliciar com as canas.
Eu tenho a impressão que tudo isso era uma grande encenação dele, pois meus pais nunca me corrigiram. Acredito que meus pais nunca foram comunicados sobre isso. Meu avô José sempre foi para mim uma caixinha de surpresa, mais tarde conto!

9 de jan. de 2011

Dobbiamo imparare a vivere con le cose che non posso cambiare!

Quando vovó falava da Itália do seu olho corria lágrimas, contava da sua casa, construída em dois pisos. Parecia que ela se transportava para lá, sua descrição era minuciosa que, eu tinha a impressão de estar lá.
A casa fora feita praticamente no meio do terreno, na frente ficava o jardim, à direita o pomar, bem  cuidado, se erguia majestoso, à esquerda ficava a horta e o vinhedo.
Dentro da casa era um luxo só. Toda cortinada, atapetada, móveis ótimos.
No primeiro piso ficavam as salas,s ala de refeição e cozinha. No segundo  piso ficavam os dormitórios, quarto de banho e a sala de costura.
Em tudo a mãe dela tinha colocado bom gosto e luxo. Era um palacete como não se vira a tempos. Possuía muitos vidros.
Normalmente nesse trecho ela parava, suspirava e depois acrescentava "mas eu não me arrependo de nada, aqui fui muito feliz e quando estava me preparando para viver só, o pai me manda você. Se seu físico é dos Porto mas dentro de você há um Fusco. Nesse seu jeito de andar com as mãos para traz, seu gosto pelos bichos, o amor pela terra e principalmente sua paciência me faz lembrar seu avô. Se ele fez besteiras, como a perda da fazenda ou o pedaço do sítio que ele trocou por uma casa, a troca foi feita trocando só as escrituras, era porque era muito inocente, nada entendia de papeladas, era simples, não burro. Nos últimos tempos a bebida estava corroendo ele por dentro. Eu gostaria muito que minha historia conseguisse provar para você que DOBBIAMO IMPARARE A VIVERE CON LE COSE NON POSSO CAMBIARE, E CAMBIARE CON LA SAGGEZZA DI SAPERE CIÔ CHE É POSSIBLE (Precisamos aprender a viver com as coisas que não podemos mudar, e mudar com sabedoria o que é possível)".  

8 de jan. de 2011

Ciao a adele e un umido bacio e abbraccio!

Chegava da Itália pelo menos duas cartas por mês. Era sempre minha irmã que lia, e eu ficava atrás dela procurando entender os desenhos das letras.
Para mim esse era um mundo desconhecido, como aqueles desenhos podiam dizer tanto! Comecei a observar que cada vez que lia meu nome era sempre igual o desenho, cheguei a conclusão que meu nome se escrevia dessa maneira.
Resolvi arriscar, copiei o nome, depois de muito treino, e pedi para meu tio ler, e tudo se confirmou. Eu havia descoberto como escrever meu nome. Dai para frente todo lugar era bom para eu escreve-lo. Todas as porteiras do sítio, foram marcadas com meu nome. Mas não sosseguei ai, não.
Fui copiando outras palavras, até após algum tempo eu estava lendo e escrevendo, mas em italiano.
Como só no final do ano eu faria cinco anos, e não contei com a ajuda de ninguém, só com a minha vontade de ler e escrever, tudo foi muito difícil, duas décadas depois, eu viria a seguir esses passos para alfabetizar meus alunos, usando a leitura de jornais.
Quando meus parentes da Itália souberam, ficaram maravilhados e me mandaram um quadro de Santo Antônio de Pádua para me proteger. Enquanto papai foi vivo ele o guardou para mim, mas quando ele faleceu não sei onde ele foi parar.
Essa vontade de aprender me acompanha até hoje.

7 de jan. de 2011

Depois de uma grande tristeza, vem a maior alegria!

Mamãe demorou muito para se recuperar da morte de meu irmão, mas aos poucos ela foi aprendendo a viver sem ele.
Começou a ir à cidade e apesar de estar vestida humildemente, sem sapatos, constantemente com um lenço na cabeça, ela era muito respeitada por todos e continuava sendo muito querida;  a maioria das pessoas passaram a admira-la mais ainda por sua decisão.
Cada vez que ia à cidade me levava de fronte a Escola de Magistério e maravilhada ficava olhando as normalistas saindo com suas saias marinho, blusa branca, gravata marinho com listras indicando a série que está e o laço na cabeça e ela prometia que logo estaria me vendo lá.
Nós íamos também ver o que havia de novo na Loja das Novidades. Em um desses dia a dona foi logo mostrando o que  ia trazer para o Natal. Um boneco, feito na Itália, que era um bebê perfeito, era a coisa mais linda! Mamãe ficou  interessada e começou a fazer perguntas, eu corri pedir que ela falasse com o Papai Noel para me dar um, ela então disse que era muito caro, o dono da loja me pegou pelas mãos e me levou ver outros brinquedos.
Saindo de lá fomos na Loja Chadade, onde ela comprou rendas, fitas, linhas, panos e uma lã nova, pronta para tecer.
Quando papai veio nos buscar eu fui pedindo para ele emprestar dinheiro ao Papai Noel para ele pudesse me dar o boneco mais lindo do mundo, mas ele só deu risada.
Naquela noite mesmo vi mamãe fazendo roupas de bebê. Como minha irmã sempre disse que eu atrapalhava a sua vida, fiquei muito triste porque achei que ia ganhar um irmão para atrapalhar minha vida.
Chorei muito escondido, fui ficando cada vez mais triste, pois fui vendo as roupas e o que vovó tecia: sapatinhos, casaquinhos, gorros, luvinhas e tudo bem bordado.
Finalmente o Natal chegou!
Nessa época a minha casa ficava cheia de visitas. Eu estava triste que não aproveitei nada. A mesa da ceia é arrumada! Ficávamos olhando para o céu e quando a primeira estrela aparece todos correm para dentro, pois a ceia ia começar!
Nessa noite fui deitar mais cedo. Quando acordei na madrugada, nos pés da minha cama havia um carrinho de bebê e dentro dele meu boneco lindo ,havia até uma mala de roupas. Fiquei alucinada, acordei todo mundo.
Na verdade as roupas não era para um bebê, mas sim para o meu boneco!

6 de jan. de 2011

Como Bárbara perdeu um olho!

Enquanto trabalhávamos com as mãos, agora eu também tecia, ou fiava na roca; ouvíamos as histórias da vovó.
Por várias vezes perguntei como ela perdeu um olho, mas nunca respondeu até que um dia resolveu contar.
Começou dizendo que logo ao chegar tinham o mesmo tratamento dispensado aos negros, com exceção da chibata e do tronco. Os italianos tiveram que provar com atos sua capacidade de trabalho, sua inteligencia e sua competência administrativa para ter o respeito devido.
Quando tocava o sino e todos saiam de casa em fila  acompanhando o capataz, o fiscal entrava nas casas para verificar se ninguém ficara dormindo, era humilhante.
Em uma manhã, Bárbara não estava  bem, mas  foi assim mesmo para a roça, temendo ser humilhada. Como estava zonza ao puxar os grãos de café do galho, este entra no seu olho perfurando, foi uma dor terrível, chegando a desmaiar, os próprios italianos a socorreram, enquanto o capataz foi buscar o patrão.
Foi levada ao hospital, e depois encaminhada para o Penido Bunier em Campinas, onde ficou um bom tempo.
O patrão queria por olho de vidro, mas ela não quis. Retorna para casa, exigindo ainda alguns cuidados, todos acreditavam que ela ficara invalida, mas volta com vontade de sarar para voltar ao trabalho.
Viveu o resto da vida sem olho esquerdo, mas fazendo tudo que fazia antes. Conseguia fazer crochê usando linha de costura, ficava uma delicadeza!
O que vovó fazia só com um olho a maioria das mulheres de hoje não fazem nem usando óculos.
Ela era mesmo uma mulher de raça!

5 de jan. de 2011

Meu primeiro troféu, um par de meias!

Na verdade eu só sossegava à noitinha quando mamãe e vovó iam fazer seus artesanatos.
Eu ouvia embebecida as história da Itália contadas por vovó Bárbara, enquanto observava ela tecer meias, com cinco agulhas. Como vovó fazia muito bem, as mulheres dos endinheirados de Avaré faziam grandes encomendas e ela trabalhava toda noite para dar conta das entregas.
Eu, na minha inocência queria aprender para ajudá-la. Ao mesmo tempo em que tecia falava da sua Itália. Lembro-me do dia em que ela falou que na sua terra, não era só belezas, havia tambem miséria, nos arredores de Roma. Famílias inteiras que trabalhavam só pela comida. Crianças pediam esmola, idosos se ofereciam para trabalho braçal e que muitas vezes ela deu serviço  só por pena.
Eu ia ouvindo, mas prestando atenção nas suas mãos, pois eu precisava aprender logo.
Lá pelas 8h00, ela pegava o tricô e o guardava num malão na sala de costura. Quando ela deitava, eu pegava a meia, ficava bem quietinha, e ia tentando tecer. É lógico que no começo, eu bagunçava bastante as lãs, mas com o passar do tempo fui aprendendo e quando achei que já sabia, quando ela começou a tecer quis fazer um pouco, mamãe logo disse que eu ia atrapalhar, mas vovó, foi logo dizendo que eu já sabia, pois a um bom tempo vinha treinando. Como ela sabia?
Criança é criança não importa a raça! Fiquei mais surpresa ainda, quando ela me dá cinco agulhas que papai tinha feito especialmente para mim. Rapidamente dominei a tecnica e passei a ajudar a vovó, como havia planejado.
A primeira meia que fiz foi para a filha do Pimentel, amigo de papai. Certo dia a família vem nos visitar. Quando chegam e eu olho que ela estava usando a meia que eu havia feito, fico toda emocionada, foi como se tivesse recebido meu primeiro trofeu. Logo aprendi a tecer o fio na roca.
Tudo isso aconteceu, antes de eu completar cinco anos!

4 de jan. de 2011

Criança criada livre, aprende a se cuidar!

Vivi no Campo Redondo, até meus oito anos, sempre livre como um bichinho no mato. Tinha primos de idade próxima a minha, mas meu grande companheiro, mentor e orientador era o filho da Natália, empregada do sítio.
Meu pai costumava dizer que o café estava sempre junto do leite, pois meu amigo era o meu inverso. Enquanto eu era loira de olhos azuis, ele era negro como o petróleo, de uma beleza ímpar. Ele era dois meses mais velho, mas eu sempre fui maior que ele.
Corríamos todos os dois sítios de papai, rindo, pesquisando, subindo nas árvores, brincando com os animais ou mamando na teta da minha Bita (uma das cabritas que ganhei quando nasci).
O interessante é que sabíamos onde havia perigo e nos afastávamos desses locais. Nunca sofremos acidentes ou nos machucamos. O único lugar que não íamos era no rio, pois no Natal de 1947, quando meus pais iam levando os presentes para os empregados (a colônia ficava a abaixo do rio), eu cai no rio demorei  para ser retirada da água, pois fiquei enroscada num galho,fui dada como morta,até  um caixão rosa foi feito para me enterrar,mas como a Fenix revivi, mas o medo da água, não passou ate os dias atuais.
Por mais que eu tente, não consigo lembrar o nome desse grande amigo, mas vez ou outra, tenho a sensação gostosa de sua presença. Logo percebi que eu era muito diferente dele, e para ficar como ele, passei a me pintar com o torrador de café. Passando a fuligem do torrador em meu corpo eu acreditava que ficava da sua cor.
Das nossas travessuras a que mais me marcou foi o  roubo das ervilhas. Entre o sítio de papai e do meu tio havia uma mina d'agua na encosta, a cima era outro sitio onde se plantava ervilhas. Eu era louca por elas; as comia crua. Havia um barranco fácil de escalar. Eu e meu amigo subíamos o barranco e colhíamos toda ervilha que pudessemos comer. Por várias safra, no deliciamos com as  ervilhas, até que certo dia ouvi o vizinho conversando com papai, ele dizia: "Que belezinha sua menina toda pintada de preto, sobe o barranco, vai até a plantação de ervilha e com muito cuidado as colhe, sem nada destruir, senta no carreador e come tudo sem nada estragar. Papai chateado, pede desculpas e quer lhe pagar, mas ele afirma "Não estou criticando, pelo contrario estou elogiando a educação, o respeito com que ela trata as plantas e a terra. Se Deus levou seu filho, salvou uma filha que tenho certeza será a sua continuidade. Todos meus empregados tem ordem de se esconder e só ficar olhando a beleza desse ato de amor pela terra".
Fiquei arrasada e nunca mais as roubei, mas também pra que se ele passou a trazer!

3 de jan. de 2011

Uma mulher muito adiante do seu tempo!

Ao criar a mulher, Deus não a tirou da cabeça, para que ela não se sentisse superior; não tirou dos pés para que não se sentisse inferior; a tirou da costela para que andasse lado à lado com o  homem em igualdade.
Foi ouvindo essa afirmação, que fui criada pela mais feminista das mulheres do século 19, minha avó Bárbara. Não sabia ler nem escrever, mas era dona de uma enorme cultura, talvez por ser de uma casta elevada ou por ser UNA DONNA MOLTO PLÙ AVANTI DEL SUO TEMPO.
Essa italiana deixou tudo por um grande amor e soube com alegrias  enfrentar tudo que a vida lhe enviou. Foi ela e minha mãe que lapidaram este cristal bruto, transformando na filha do dono do mundo.
A noite quando ela e mamãe se punham a fazer artesanato eu deitava no colo da vovó e via, maravilhada a sua destreza em tecer meias, com cinco agulhas. Nessa hora que ela ia contando as suas histórias de vida.Foi assim que ela me fez viver um pouco as suas experiência de vida.
Hoje com as experiências que meus 66 anos me confere, entendo que na verdade o que ela estava fazendo era manter as tradições de nossa família.
Tudo isso só foi possível porque um anjo que viveu conosco nove anos, além de transformar minha mãe, aproximou neta e avó, para que se cumprissem os desígnios do pai.

2 de jan. de 2011

Todos temos uma hora para nascer e uma para morrer!

Meu irmão além de muito bonito era de uma inteligencia rara, aprendia tudo com muita rapidez. Entrou na escola e em um ano fez três séries, com 9 anos estava passando para a quarta série.
Em meados de 1948, novamente minha família foi sacudida pela vida.
Minha mãe trazia a casa brilhando, o assoalho de tão brilhante refletia o que estivesse por cima, havia almofadas espalhadas pela sala, em tudo havia beleza e bom gosto.
Certo dia meu irmão chegou da escola radiante, havia tomado vacina anti-tetanica, e já estava de férias! Nesse dia mamãe decidiu fazer faxina, mas não tinha querosene para dissolver a cera de abelha, ordena ao meu irmão que fosse buscar, em Barra Grande, que era bem próximo á minha casa. Ele disse que não iria, e ela o ameaçou. Chorando de raiva ele vai buscar.
Como o trem passava perto de casa, foi e voltou de trem para chegar  rápido, mas na volta ao pular do trem machucou  o joelho. Ao chegar em casa, mamãe que já estava  triste por ter sido ditatorial com seu filho amado, preocupada cura o machucado e pede desculpas pela sua maneira de tratá-lo.
Deitamos cedo, pois no dia seguinte o serviço seria puxado. De madrugada, vovó acorda com um ruído estranho, parecia sororoca (ruído que as pessoas moribundas fazem). Imediatamente chamando por minha mãe, corre para meu quarto, pois eu havia sido desenganada pelo médico, como eu dormia calmamente, vão ao quarto da minha irmã e por último ao quarto do meu irmão.
Apavoradas descobrem que meu irmão agonizava. Rapidamente partem com ele para o hospital de Avaré. Apesar da junta médica, antes do amanhecer meu Faz a grande  viagem. Seu corpo é velado na casa de minha tia, na rua Pernambuco, em Avaré.
Tenho a pior recordação de minha vida. Enquanto todos velavam o corpo, eu brincava na frente da casa, ao lado do registro d'agua, e ouvi de duas mulheres algo que mexeu muito comigo.
Uma delas disse "Você viu que desgraça se abateu sobre essa gente, esperavam a morte dessa menina e foi o sadio que faleceu".
Será que elas pensavam que eu era surda? Foi aí que na minha inocência eu pensei "Não vou morrer, não vou dar esse gosto para essas mulheres". Acredito que daí vem minha força para lutar contra tudo e todos.
Após o enterro,  arrasados fomos para casa. Minha mãe estava fora de si e ao chegar em casa, põe fogo no guarda-roupa, porque acreditava que foi seu orgulho que o matou. Fez então, voto de pobreza, alegando que seu orgulho não mataria mais ninguém. Desde então ela nunca mais pôs uma roupa nova e nem sapatos. Viveu na pobreza, apesar de termos posses. Para nós tudo para ela nada.

1 de jan. de 2011

No sobrenome trazemos a história construída pelos antepassados!

A vida seguiu seu curso!
Eu que nasci tão diferente, continuaria única na maneira de ser, sentir ou agir. Nunca quis ser igual aos outros, sempre quis ser eu mesma, toda poderosa, a filha do dono do mundo, pois foi assim que me ensinaram: eu tudo podia bastava querer.
Uns dos primeiros ensinamentos que recebi, foi a importância de meu sobrenome - Porto - pois ele trazia a responsabilidade de uma história começada por meus antepassados e que eu deveria continuar com tanto brilho como eles fizeram.
Eu trazia a certeza que nós temos um só pai, portanto somos todos iguais, nem o racismo da mulher que foi meu exemplo de vida, minha avó Barbara, conseguiu me afetar.
Logo cedo demonstrei a que tinha vindo: viver e aprender, o resto seria só consequência.
Enquanto minha irmã gostava de se arrumar, eu queria viver livre e solta, como um bichinho no mato.
Antes do sol nascer meus pais e meu irmão, seguiam para a roça, após mamãe tirar o leite e servir um farto café. Nós comíamos polenta com leite, pão italiano, mel, geléias, tudo regado com muito amor.
A minha irmã raramente ia, ela gostava de ficar com minha avó Rubina.
Eu e minha avó Bárbara, ficávamos em casa, enquanto vovó preparava as comidas eu brincava.
Depois de tudo pronto, a comida era colocada em duas cestas enormes que amarradas eram colocadas no lombo da égua Baliza, vovó se acomodava na cela, eu ia na sua frente sentada.
Mesmo andando devagar, logo chegávamos onde todos trabalhavam. As 9h00 era servida a merenda e depois das 11h00 era servido o almoço. Vovó ficava  então trabalhando na terra, até 15h00 ou 16h00 quando eu e ela íamos embora.
Todos os dias eram iguais, menos nos sábados, em que o trabalho terminava na hora do almoço, só para as mulheres. Era à noite que à família se reunia ao redor de uma mesa enorme. Nessa mesa havia só alegrias, os problemas eram deixados fora dela. Vovó dizia que a hora das refeições era sagrada.
Já noite, papai ia tocar ou cantar no terreiro com os outros homens, enquanto as mulheres, na sala bordavam, faziam tricô ou crochê. Eu ficava atenta a tudo procurando aprender.