4 de jan. de 2011

Criança criada livre, aprende a se cuidar!

Vivi no Campo Redondo, até meus oito anos, sempre livre como um bichinho no mato. Tinha primos de idade próxima a minha, mas meu grande companheiro, mentor e orientador era o filho da Natália, empregada do sítio.
Meu pai costumava dizer que o café estava sempre junto do leite, pois meu amigo era o meu inverso. Enquanto eu era loira de olhos azuis, ele era negro como o petróleo, de uma beleza ímpar. Ele era dois meses mais velho, mas eu sempre fui maior que ele.
Corríamos todos os dois sítios de papai, rindo, pesquisando, subindo nas árvores, brincando com os animais ou mamando na teta da minha Bita (uma das cabritas que ganhei quando nasci).
O interessante é que sabíamos onde havia perigo e nos afastávamos desses locais. Nunca sofremos acidentes ou nos machucamos. O único lugar que não íamos era no rio, pois no Natal de 1947, quando meus pais iam levando os presentes para os empregados (a colônia ficava a abaixo do rio), eu cai no rio demorei  para ser retirada da água, pois fiquei enroscada num galho,fui dada como morta,até  um caixão rosa foi feito para me enterrar,mas como a Fenix revivi, mas o medo da água, não passou ate os dias atuais.
Por mais que eu tente, não consigo lembrar o nome desse grande amigo, mas vez ou outra, tenho a sensação gostosa de sua presença. Logo percebi que eu era muito diferente dele, e para ficar como ele, passei a me pintar com o torrador de café. Passando a fuligem do torrador em meu corpo eu acreditava que ficava da sua cor.
Das nossas travessuras a que mais me marcou foi o  roubo das ervilhas. Entre o sítio de papai e do meu tio havia uma mina d'agua na encosta, a cima era outro sitio onde se plantava ervilhas. Eu era louca por elas; as comia crua. Havia um barranco fácil de escalar. Eu e meu amigo subíamos o barranco e colhíamos toda ervilha que pudessemos comer. Por várias safra, no deliciamos com as  ervilhas, até que certo dia ouvi o vizinho conversando com papai, ele dizia: "Que belezinha sua menina toda pintada de preto, sobe o barranco, vai até a plantação de ervilha e com muito cuidado as colhe, sem nada destruir, senta no carreador e come tudo sem nada estragar. Papai chateado, pede desculpas e quer lhe pagar, mas ele afirma "Não estou criticando, pelo contrario estou elogiando a educação, o respeito com que ela trata as plantas e a terra. Se Deus levou seu filho, salvou uma filha que tenho certeza será a sua continuidade. Todos meus empregados tem ordem de se esconder e só ficar olhando a beleza desse ato de amor pela terra".
Fiquei arrasada e nunca mais as roubei, mas também pra que se ele passou a trazer!

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