28 de jan. de 2011

Uma italiana em escola para brasileiros!

Atendendo a minha ânsia de aprender meus pais me matricularam no Grupo Escolar de Cerqueira César, hoje Avelino Pereira.
Nasci no Brasil, mas fui criada como italiana: língua, modos e maneira de ser.
Tudo foi preparado para meu ingresso na escola: a saia pregueada de casimira, a blusa branca de tricoline, os pares de meia soquete branco, o sapato preto, estava um brilho só, até fitas branca para o cabelo foi comprado.
Meus pais compraram o melhor material escolar: caderno bonitos que traziam os hinos oficiais na contra capa, lápis preto, uma caixa de 36 lápis de cor, uma cor mais linda que a outra, apontador, canetas e penas.
Tudo era maravilhoso, só se esqueceram que eu já sabia ler e escrever em italiano e não sabia falar o português, só entendia. Acredito que para meus pais não havia diferença entre eu e uma criança típica brasileira.
No primeiro dia de aula, bem antes do início do dia letivo, me aprontei, pus o uniforme, meu cabelo foi trançado e amarrado laço de fita. Vovó Bárbara seguiu comigo ,levando a minha bolsa com meus materiais. Ela seguia toda orgulhosa como que levando um troféu.
Os portões já estavam abertos e vovó entrou comigo. As crianças faziam muita algazarra. Fizemos fila para acompanhar a professoa até a classe. Como íamos dois a dois uma menina se achegou ao meu lado, e demonstrando que era obsevadora foi logo dizendo "Eu sei que você não é brasileira, mas eu entendo sua língua e vou te ajudar". Foi aí que nasceu minha outra irmã. Eu que estava perdida no meio da cambada de meninas fui salva por uma desconhecida.
Já na classe os problemas começaram. Eu entendia tudo que a professora falava, mas quando eu tentava reponder todas riam muito. Nessa época as classes não eram mistas, havia classes só de meninas ou só de meninos. Cada vez que as meninas caçoavam de mim,  minha nova amiga saía em minha defesa.
No final da aula a professora pediu para meu pai vir falar com o diretor. Tão logo eu cheguei, papai foi até a escola. Sabe o que o diretor queria? Que eu aprendesse português. Eu continuaria na escola, ao mesmo tempo que deveria ter um professor para me ensinar a nova língua.
Sugestão aceita lá fui eu ter aulas particulares, mas como continuei indo a aula, quem de verdade me ensinou o português foi a minha nova amiga. Fiquei sabendo que seu nome era Maria Clarice, morava no sítio Três Ranchos, tinha mais três irmãos. Ela era a mais velha de todos. Entendia o italiano, pois toda sua família sempre trabalharam com a tradicional família Moura Leite. Ela fazia questão de dizer que era uma menina negra com muito orgulho.
Na classe sempre que eu tentava falar, ela dizia a palavra e pedia que eu repedisse, e assim com a atenção especial de minha professorinha em dois meses eu já me comunicava bem, e cada vez que errava Maria Clarice me corrigia. Por isso sempre disse aos meus filhos que na verdade ela foi minha primeira professora.
Logo a amizade entre nossas família nasceu .Uma freguentava a casa da outra. O interessante é que minha avó que era racista nunca percebeu que Clarice era negra. Acho que sua grande amizade por mim só fez vovó ver sua grandeza de alma e não sua cor.

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