Enquanto trabalhávamos com as mãos, agora eu também tecia, ou fiava na roca; ouvíamos as histórias da vovó.
Por várias vezes perguntei como ela perdeu um olho, mas nunca respondeu até que um dia resolveu contar.
Começou dizendo que logo ao chegar tinham o mesmo tratamento dispensado aos negros, com exceção da chibata e do tronco. Os italianos tiveram que provar com atos sua capacidade de trabalho, sua inteligencia e sua competência administrativa para ter o respeito devido.
Quando tocava o sino e todos saiam de casa em fila acompanhando o capataz, o fiscal entrava nas casas para verificar se ninguém ficara dormindo, era humilhante.
Em uma manhã, Bárbara não estava bem, mas foi assim mesmo para a roça, temendo ser humilhada. Como estava zonza ao puxar os grãos de café do galho, este entra no seu olho perfurando, foi uma dor terrível, chegando a desmaiar, os próprios italianos a socorreram, enquanto o capataz foi buscar o patrão.
Foi levada ao hospital, e depois encaminhada para o Penido Bunier em Campinas, onde ficou um bom tempo.
O patrão queria por olho de vidro, mas ela não quis. Retorna para casa, exigindo ainda alguns cuidados, todos acreditavam que ela ficara invalida, mas volta com vontade de sarar para voltar ao trabalho.
Viveu o resto da vida sem olho esquerdo, mas fazendo tudo que fazia antes. Conseguia fazer crochê usando linha de costura, ficava uma delicadeza!
O que vovó fazia só com um olho a maioria das mulheres de hoje não fazem nem usando óculos.
Ela era mesmo uma mulher de raça!
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