Na verdade eu só sossegava à noitinha quando mamãe e vovó iam fazer seus artesanatos.
Eu ouvia embebecida as história da Itália contadas por vovó Bárbara, enquanto observava ela tecer meias, com cinco agulhas. Como vovó fazia muito bem, as mulheres dos endinheirados de Avaré faziam grandes encomendas e ela trabalhava toda noite para dar conta das entregas.
Eu, na minha inocência queria aprender para ajudá-la. Ao mesmo tempo em que tecia falava da sua Itália. Lembro-me do dia em que ela falou que na sua terra, não era só belezas, havia tambem miséria, nos arredores de Roma. Famílias inteiras que trabalhavam só pela comida. Crianças pediam esmola, idosos se ofereciam para trabalho braçal e que muitas vezes ela deu serviço só por pena.
Eu ia ouvindo, mas prestando atenção nas suas mãos, pois eu precisava aprender logo.
Lá pelas 8h00, ela pegava o tricô e o guardava num malão na sala de costura. Quando ela deitava, eu pegava a meia, ficava bem quietinha, e ia tentando tecer. É lógico que no começo, eu bagunçava bastante as lãs, mas com o passar do tempo fui aprendendo e quando achei que já sabia, quando ela começou a tecer quis fazer um pouco, mamãe logo disse que eu ia atrapalhar, mas vovó, foi logo dizendo que eu já sabia, pois a um bom tempo vinha treinando. Como ela sabia?
Criança é criança não importa a raça! Fiquei mais surpresa ainda, quando ela me dá cinco agulhas que papai tinha feito especialmente para mim. Rapidamente dominei a tecnica e passei a ajudar a vovó, como havia planejado.
A primeira meia que fiz foi para a filha do Pimentel, amigo de papai. Certo dia a família vem nos visitar. Quando chegam e eu olho que ela estava usando a meia que eu havia feito, fico toda emocionada, foi como se tivesse recebido meu primeiro trofeu. Logo aprendi a tecer o fio na roca.
Tudo isso aconteceu, antes de eu completar cinco anos!
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