Sekito

Eu havia acabado de me mudar para Cerqueira César,cidade onde morei,me casei e onde nasceu meu primeiro filho,o Ulísses.
A casa que eu comprei era um cortiço com 5 casinhas mal feitas e inacabadas!
Eu havia feito um curso de pedreiro e só com um ajudante me pus a transformar em uma casa habitável
Logo todos os olhares se voltaram para mim,uma mulher só,com vários cachorros e ainda fazendo serviço de pedreiro?
Logo toda a região ficou me conhecendo como a mulher pedreira que adorava cachorro!
Começaram a deixar filhotinhos de cães no meu portão e uma senhora ,que viria a ser uma grande amiga:depois de 6 meses que eu havia mudado ,apareceu com um pinscher cheio de feridas,sem pelo, magérrimo aparecendo as costelinhas daquele que teria sido um cachorrinho de um pouco mais de um palmo.
Meu coração doeu de ver o estado do coitadinho,mas assumi o compromisso ,comigo mesmo de salvar aquele monte de ossos que minha amiga chamou de Sekito!
Essa minha amiga vinha todos os dias vê-lo,pois acreditava que ele não se salvaria.
Fiquei mais horrorizada quando soube que Sekito tinha sido comprado por um casal carioca ,tinha tido um quarto só para ele,fora tratado como filho tendo tido até direito a festa de aniversario de um ano!
Essa família quando descobriu que a esposa estava grávida não pensou duas vezes em descartar o bichinho,seis meses antes dele fazer 2 anos,colocando-o na rua e fechando o portão!A minha amiga disse que ele chorava no portão e eles o expulsavam com esguicho.Por ter sido criado como gente ele não sabia viver ,apanhou muito dos outros cães!
A situação da saúde dele era crítica,estava tão desnutrido que nem sabia mais comer,
Passeia a bater a ração  e dar de colher em colher,ate que dois meses depois ele começou a comer.Vitória meu Sekito estava salvo.
Aos poucos sendo bem alimentado e muito amado ele se transformou num cachorro de raça!
Mas a sua vida ainda lhe reservava mais sofrimento.Dez anos depois fui agredida e quebrei a cabeça do fêmur e com lá não havia recurso fui trazida para Valinhos,onde fiquei por 3 meses!
Meus cachorros foram recolhidos e segundo a vizinha a turma da ONG chegou a brigar pelos meus cães,eles eram lindos e bem cuidados.O Sekito foi levado pela irmã do presidente da ONG.
Quando eu voltei, no mesmo dia houvi baterem no portão.
Fui atender , mas não havia ninguém só o Sekito magro ,feio pulando como doido de alegria por ter me reencontrado.
Logo que voltei para Valinhos ele pulou de uma janela e para voltar a andar teve que sofrei 4 operações,sua perninha direita foi refeita pinos e aço !
Agora me digam se não para sofrer com sua ausência??????????????

SEXTA FEIRA SANTA DIA DE LABORE

Em todas as sextas feiras santa o ritual na minha casa era sempre o mesmo,seguindo uma tradição familiar!
Antes do sol nascer, muito de madrugada minha família se punha a caminho para colher marcela do campo.
Para minha família essa erva era muito importante.Com suas flores faziam travesseiros e chá para varias doenças.
Dizia a tradição, que para que ela tivesse seus efeitos curativos potencializados, deveria ser colhida na sexta feira santa,antes do sol nascer.
No começo como eu era bem pequena ia montada a cavalo no pescoço  de meu pai,mas a medida que crescia  , ia livre correndo feliz  na frente de todos  ,colhendo as florezinhas.
Toda as flores colhida eram secas ao sol coberto por uma peneira fininha para que bicho não a contaminasse!
Parte dessa marcela se reservava para remédio e outro parte se fazia travesseiros ,que além de macio tinham um perfume gostoso!
Terminada a colheita da marcela todos se dirigiam a terra, preparada anteriormente por papai ,para o plantio do alho!
Dente por dente,seguindo uma fileira os dentes de alho iam para a terra.
Minha família acreditava que o alho plantado na sexta feira santa seria de melhor qualidade e a colheita seria farta!
Depois, então meus familiares se dedicavam as comemorações religiosas do dia!
Vovó Bárbara dizia que a maior forma de rezar era o trabalho!!!!!!!
Ainda hoje os italianos do sul seguem essa tradição e fizeram dela uma forma de turismo,atraindo visitantes!!!!!!!!!!!

TAL NETA TAL AVÔ

Como já disse a vocês,vovó Bárbara apesar de católica tinha convicção que a reencarnação era um fato.
Desde muito pequenina vi minha avó comparando meu comportamento com o de meu avô!
Sempre fui muito livre e corria pelas matas sem medo de animais ,pelo contrário tinha uma boa relação com eles.Vovó dizia que meu avô agia assim!
Sempre adorei mexer na terra!Virava  e mexia e eu achava algo para plantar!Dizia ela que era exatamente isso que ele fazia!
Vovó dizia que desde de pequenina eu fui muito paciente,diferente de minha irmã que era agitada e impaciente.
Minhas semelhanças no comportamento com meu avô ia até no modo de andar e agir.
Quantas vezes peguei minha avó embebecida me observando enquanto eu pintava ou fazia um trabalho manual.........Será que ela lembrava no seu grande amor por que eu agia como ele?
Chamava a sua atenção meu interesse em saber tudo sobre a Itália,eu ficava horas ouvindo os relatos dela e de vovô José........Meu avô adorava a sua terra.....
O mais engraçado era que todos que conheceram meu avô me comparavam com ele ,até mesmo meu pai chegou a dizer que eu andava e tinha tanta paciência quanto vovô!
Ainda hoje quando encontro algumas dificuldades no que estou fazendo me pego andando com as mãos para trás e de cabeça baixa,buscando uma solução.Diziam que ele fazia assim.......
Nunca essas  comparações me incomodaram,pelo contrário fico feliz em agir com alguém tão honesto e trabalhador como foi meu avô Paschoal !!!!!

Quem foi Paschoal?

Quando eu nasci vovô já havia partido  para além vida a mais de 6 anos,portanto não convivi com ele.
Conheci vovô através da vovó Barbara.Com suas descrições tao empolgadas e cheia de amor conheci,sem ter visto meu avô.
Vovó era católica,mas acreditava fielmente na reencarnação.Logo que me vi como gente comecei a ouvir da vovó que se vovô era o pai da paciência eu era a mãe!
Vovô era um homem de pequena estatura,moreno e muito bonito.
Nascido em uma cidade da Província da Calábria ,uma região de poucos recursos,cercada por montanhas e muito povoada.
Lá tudo era diferente de Nápoles onde as casas eram bonitas e bem cuidada,as ruas eram limpas e por ter mais recurso econômico oferecia mais serviço!
Foi a procura de serviço que o jovem Paschoal veio para  região de Nápoles!Vontade de trabalhar era o que não faltava!
Órfão de pai ,muito cedo partiu para o trabalho na terra!Nunca enjeitou um serviço,por pior que fosse!Tratava a terra com respeito e amor e aos animais com dedicação e respeito!
Ele dizia que não havia animal violento,mas sim o homem invadindo seu espaço!
Quando estava trabalhando,se dedicava tanto que parecia hipnotizado!
As vezes ,enquanto trabalhava,ele parava,punha os braços para trás e começava a andar.......
Nessa hora ele estava insatisfeito de como estava saindo seu serviço e estava procurando uma saída....
Logo se punha a trabalhar com afinco,havia achado uma saída......
Vovó costumava dizer que eu sabia mais de meu avô do que os netos que o haviam conhecido...
Para minha avó desde minha tenra idade apresentei semelhanças com o modo de ser de meu avô.Este é assunto para outra postagem!!!!!!!!!

O DIA EM QUE MEUS AVÓS FORAM TRATOS COM ESCRAVOS

A vida é feita de pequenos acontecimentos e principalmente de recordações........
Ao ler a copia da certidão de casamento de meus avós uma enxurrada de lembranças vieram a minha mente!
Vi vovó Bárbara emocionada contando o que aconteceu nesse dia.
Eles já estavam no Brasil a um bom tempo,mas seus patrões vinham, a tempos, dizendo que deveriam se casar no civil aqui, no Brasil para garantir a permanência!
No dia marcado lá foram eles juntamente com os patrões para o cartório de Piraju,pois a fazenda em que moravam pertencia a essa cidade,pois Cerqueira César era só um povoado com pouquíssimas casas.
No cartório foram tratados  como verdadeiros escravos!
Quando vovô começou a apresentar os documentos de entrada  no país, certidão de nascimento dele e da vovó o dono do cartório nem leu,pegou um só dos documentos e disse aos patrões que não precisava tanto pois eles nem eram brasileiros!Vovó Barbara se sentiu ofendida ,pois se não eram brasileiros estavam, com o suor do rosto e os calos das mãos construindo um novo país!
Nem tomou o cuidado de verificar a escrita dos nomes ,escreveu como entendeu!
Meus avós alem de não saber escrever também não falavam o português foi o patrão que foi explicando o que estava acontecendo!
Vovó foi embora triste por ter sido tão maltratada,mas vovô foi acalmando dizendo que não tinha importância,o importante era o amor deles e a família que já tinham construído!
Vovó tinha muito orgulho de sua origem e nunca perdoou o tratamento que recebeu nesse dia!!!!!!!!!!!!

O retorno

Por um bom tempo estive ausente,sem condições física de postar.Hoje estou retornando e espero que agora de vez!
Acredito que sou uma pessoa uma nova pessoa ,com outros anseios,com algumas esperanças mortas e outras latentes.Nunca ,em sã consciência ,pensei que poderia sofrer e aguentar tanto sofrimento!
O  engraçado é que foi nesse período ausente que vi como este blog descompromissado atingiu tantas pessoas!
Ajudou uma senhora que tinha uma ulcera varicosa a descobrir a câmara hiperbárica,que curou sua ferida,incentivou a Sônia a decidir sua vida e criar coragem e se remover para a região de Apiaí
 e me proporcionou encontrar netos e bisnetos de meus tios
A Sônia foi minha maior incentivadora para que eu retornasse mesmo ainda sem estar completamente
curada!
Fiquei feliz em ser útil!
Logo no início falei em esperanças mortas,entre elas esta conseguir andar normalmente,isso nunca ocorrerá,pois devido a demora da troca da prótese minha perna ficou mais curta e continuo andando na ponta do pé o que vem provocando infecção no nervo da perna.Como dói!!!!!!
Apesar de tudo estou feliz porque apesar de tudo estou viva e pronta até para viver com limitações!
Neste último ano tive o apoio incondicional de meus filhos,netos e noras!
Fiquei um bom tempo necessitando de atenção especial,pois cheguei a não ter forças para levar o alimento a boca fazer minhas higiêne e foi na casa de meu filho Ulisses que fui cuidada com carinho!
Imagine até a mãe da Emilia,a querida Rosa ajudou a cuidar de mim.
Não posso reclamar,tenho uma familia MARAVILHOSA!!!!!!!!!!!

Amor aos animais

Foi na década de 70 que ela e eu nos mudamos para Valinhos,eu para lecionar na Reforma Agrária e ela, minha amada amiga Ernestina para usufruir de uma aposentadoria,no Vale Verde.

Sabe com eu a conheci?Ambas comprávamos ração para nossos cães.

Foi o amor pelos animais que nos tornou grandes amigas,amigas até de processos, pois nessa época se apresentava como crime ,ter vários animais!

Como éramos cidadães politizadas, logo arrebanhamos para nosso socorro políticos da época,que nos defendíamos dos processos!

Quando ambas mudamos para a cidade,nossa luta ficou mais fácil!

Ernestina era uma mulher de posse, e sempre seu dinheiro,que conseguiu guardar do seu árduo trabalho como executiva de uma multinacional ,em prol dos animais!

Em seu Fiat 147,branco, havia sempre ração que ela ao ver um animal com fome,parava,independente do que estava fazendo, para alimentá-lo!

Dona de uma personalidade muito forte,nunca se intimidou com os' diz que diz' da população de Valinhos.

Sempre que alguém queria se livrar de um animal,o abandonava ou no portão dela ou no meu!

Quando algum animal estava em perigo,as almas caridosas, entravam em contato conosco!Ela era considerada doida por isso e eu chamada da "Professora dos Cachorros,tudo de maneira pejorativa,mas por amor aos animais a tudo enfrentávamos!

Hoje ,graças a rede globo ,amar os animais e protege-los,se transformou em modismo.É chique ser protetor de animais !

Nunca ,nem ela ou eu, pedimos ajuda para socorrer um bicho que sofria .Ela tinha posses para isso e eu limpei muito consultório de veterinário para pagar atendimento e fiz muito artesanato para atender as suas necessidades!
Para nós amar,proteger os animais nunca foi para galgar postos políticos ou aparecer,mas sim por que nosso amor por eles era imenso!

Toda a vida da Ernestina foi dedicada aos animais!Ao falecer seus bichos ficaram entregues a própria sorte,pois ela não tinha herdeiros diretos,até que sua afilhada e sobrinha, a Denise passou a cuidar deles.

Quando ela chegou para assumi-los,teve uma grande decepção.....todo o dinheiro de sua tia havia desaparecido,e olha que era muito o que ela tinha em aplicações no banco.

Ernestina ficou muito tempo internada e fiquei sabendo que dava cheques em branco assinados para que nada faltassem aos seus bichos...........................................

Infelizmente todos deram as costas para Denise,até mesmo aqueles que se dizem protetores de animais,e eu pouco pude ajudá-la,mas dentro das minhas possibilidades venho ajudando.

Ernestina merecia muito mais da população de Valinhos pois sempre foi muito atuante
Em sua homenagem a cachorrinha que veio de sua casa recebeu seu nome.....................